Estamos em Santo André, uma das cidades que compõem o grande ABC, em conjunto com São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Situada na área metropolitana da Grande São Paulo, com aproximadamente 716.109 habitantes (BRASIL. IBGE, 2018), Santo André ocupa uma extensão de 175 Km², divididos em 45% de área urbana e 55% em área de proteção de mananciais. A cidade reproduz os contrastes marcantes das desigualdades sociais e econômicas, características do Brasil.
Importante ressaltar que na nossa sociedade existem sistemas organizados e naturalizados de desigualdades, os quais, escondem e perpetuam a violência instalada como algo normal. As pessoas se acostumam com ela. Isto representa um verdadeiro desafio para aqueles e aquelas que buscam quebrar este ciclo de perpetuação, sustentado pelo silêncio que envolve um mecanismo hierárquico de reprodução e afirmação de poder.
Há muitos anos enfrentamos na cidade e na Região do Grande ABC, o desafio de tirar do campo da naturalização as desigualdades e as violências de gênero, raça e classe, por meio da atuação nos espaços educacionais, no movimento social e político partidário e na gestão de políticas públicas locais.
Sobre a minha trajetória acadêmica, do magistério fui para a graduação em Educação Física, e parti em 2003 para a área da Sociologia, área que mudou a minha vida e na qual atuo até hoje. A Sociologia ajudou-me a repensar o meu papel enquanto cidadã. Nesta área, conheci os estudos de gênero que fez com que eu me reconhecesse ‘mulher’, renasci e tirei as vendas que me impediam de enxergar as desigualdades sociais entre homens e mulheres.
Mais adiante compreendi a perspectiva da interseccionalidade que fez reconhecer-me brasileira e não branca. Entendi mais sobre a dinâmica social pautada por nosso sistema escravocrata, por sobreposições das discriminações e os prejuízos deste mecanismo para nossa gente. Reconheci a política educacional do esquecimento instalada em nossa história do Brasil e passei a entender melhor o que acontece hoje em meu país.
Andreense, estudei em escolas públicas controladas pela Ditadura Militar na década de 70. Quando criança, não gostava da escola e das aulas, mas adorava as amizades, a educação física, o teatro e o recreio. Fugi literalmente da pré-escola, chorava, não queria entrar, promovi escândalos até minha mãe me tirar da escola. No primário não tive escolha, e lá fui constrangida e humilhada, levei até safanão de professora, chorei e fui excluída diversas vezes pelo fato de ter piolho, por olhar a lição do amigo de trás e por não entender a continha de menos.
Minha mãe, que quase apanhou da sua professora quando criança e desistiu da escola por medo, era quem me ensinava, me fortalecia e me motivava a não desistir. Não por coincidência, talvez, há 33 anos sou professora e amo de verdade a minha profissão. Vivi a maior parte da minha vida dentro de escolas e sempre procurei fazer diferente, fui sempre firme, porém muito acolhedora, dei muito ombro, colo e chorei junto aos alunos e alunas muitas vezes. A escola para mim deve apostar todas as suas fichas para que nenhum aluno (a) desista de estudar, como no belíssimo filme chinês ‘Nenhum a Menos’, de Yimou Zhang (1998).
Com mãe dona de casa e pai mecânico de refrigeração, fui educada e criada com total apoio e liberdade. Acampamos muito nas praias, cresci brincando na rua, e, desta forma, fui uma criança plenamente feliz. Lembro a infância como a melhor fase da minha vida. Cresci ouvindo de meu pai: “deixa a menina fazer o que ela tem vontade”, o que significa muito na história de uma mulher. Aliás, muitas são vítimas do feminicídio por não poderem fazer escolhas e decidir sobre suas vidas. Meu pai nem se deu conta de que estava formando uma feminista em nossa casa.
Ser professora era um sonho desde pequena e foi realizado aos meus 14 anos no berçário de uma escolinha particular perto de casa. Família de bairro periférico, estudante de escolas públicas, fiz o magistério, por influência de minha irmã e de minha mãe. Em 1986, assim que terminei o curso, assumi como professora da rede municipal de educação de Santo André, à qual estou ligada até hoje prestes a me aposentar.
Aos 19 anos, dois anos antes de vigorar a nossa Constituição Federal de 1988, já comandava uma sala de aula com uma turminha de 30 alunos (as) de cinco anos, hoje EMEIEF Luiz Gonzaga. Nesta época, também me graduei em Educação Física, que era a área acadêmica que eu mais me identificava. Me interessava muito o que acontecia na escola, mas fora da sala de aula.
Sobre minha participação cidadã, desde antes de votar, aos 16 anos mais ou menos, comecei a militar na esquerda por influência da família, primo e amigos (as), o que me levou a atuar no Partido dos Trabalhadores, bem como, no Movimento de Mulheres. Através destes espaços, conheci o feminismo, o que me propiciou tirar as vendas ao estudar mais sobre as relações sociais.
Aprendi muito com um grupo de mulheres que se intitulavam (se intitulam até hoje) petistas e feministas. Aguerridas e ousadas para a época, em 1991, fundamos o Fé minina – Movimento de Mulheres de Santo André, um movimento que fez história no fortalecimento das mulheres na cidade, na região do Grande ABC e na implementação de políticas públicas nesta área.
No final de 2001, a convite de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André e de Ivete Garcia, feminista, vereadora e presidenta da Câmara Municipal na época, assumi a coordenação da Assessoria dos Direitos da Mulher na administração local. Celso dizia que as desigualdades entre homens e mulheres era uma construção social, portanto, deveria ser objeto de ação governamental. Em 1989, quando assumiu a prefeitura, criou, por reivindicação do nosso movimento, um dos primeiros organismos de políticas para as mulheres no Brasil que esteve atuante por três gestões municipais. Período em que nosso país passava pela redemocratização pós ditadura.
Em 2001, quando assumi a Assessoria dos Direitos da Mulher, passei a subcoordenar o Grupo Temático de Trabalho “Gênero e Municípios do Projeto “Mercocidades” no âmbito do Mercosul. Aprendi a importância das relações internacionais e dos intercâmbios para troca, apoio financeiro e técnico no avanço das políticas públicas de inclusão e de ações afirmativas.
Em 2002, com a área de Assistência Judiciária, implementamos o 1º curso de Promotoras Legais Populares (PLP) de Santo André e da região do ABC. Também neste período, com as mulheres formadas neste 1º curso de PLP, criamos o Fórmula Lilás – Fórum de Luta das Mulheres Andreenses. Aprendi a importância da educação popular e transformadora de Paulo Freire e também a potência que tem um grupo de mulheres unidas e organizadas.
Em 2003, o Programa ‘Gênero e Cidadania no Santo André Mais Igual’, vinculado à Secretaria de Inclusão Social e coordenado pela Assessoria dos Direitos da Mulher em parceria com o CES (Centro de Educação para Saúde) e outras Secretarias, conquistou o Prêmio Dubai de Melhores Práticas do Mundo, concorrendo com 554 projetos e conquistando lugar entre os 10 melhores, por considerar a dimensão de gênero nas políticas de inclusão social, econômica e urbana nos núcleos de habitação popular.
Aprendemos que, para driblar o capitalismo perverso, é indispensável a integração das políticas públicas com o enfoque no fortalecimento e na participação das mulheres como fatores de promoção do desenvolvimento local, sustentável e fortalecedor das comunidades nos seus territórios. ‘Tudo junto ao mesmo tempo no mesmo lugar’, era essa a filosofia do Programa ‘Santo André Mais Igual’, implantado pelo então Prefeito Celso Daniel, grande mestre da gestão pública no executivo, com quem tive o privilégio de militar, aprender e trabalhar na sua equipe.
Em 2003, coordenei a participação das mulheres nas discussões do Plano Diretor: ‘O Olhar Feminino sobre a Cidade’, levando o tema para a esfera regional. Este Plano Diretor foi aprovado e virou Lei Municipal nº 8.696 de 17.12.2004 que, além da linguagem inclusiva em todo o seu texto, incorporou no artigo 8º, inciso XIX: “incluir políticas afirmativas nas diretrizes dos planos setoriais, visando a redução das desigualdades de gênero”. Aprendemos a importância da transversalidade de gênero nas políticas, a importância também do Estatuto das Cidades e vimos o quanto a participação das mulheres e o olhar feminino para o desenvolvimento local é essencial no planejamento e atendimento das reais necessidades de um município e da sua população.
No âmbito do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, coordenei o (GT) Grupo de Trabalho Gênero e Raça, de 2001 a 2005, (antes Grupo de Trabalho de Combate à Violência à Mulher criado por Matilde Ribeiro em 1998), período em que lançamos o I Plano Regional do ABC de Combate à Violência à Mulher e oficializamos a 1ª Casa Abrigo Regional do ABC.
A Casa foi o primeiro equipamento público no Brasil com gestão regional, e recebeu dois prêmios nacionais, sendo um deles, o Prêmio Ruth Cardoso em 2015. Posteriormente, outras companheiras gestoras feministas avançaram na ampliação deste projeto. Hoje temos duas Casas Abrigo regionais que atendem as mulheres de toda a região do Grande ABC.
Em 2005, coordenamos com a Assessoria de Promoção da Igualdade Racial do município, o processo de implementação do projeto ‘Gênero, Raça, Pobreza e Emprego’ (GRPE), com apoio do Governo Federal (SEPPIR e SPM), através da Ministra Matilde Ribeiro na época e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Com o envolvimento das sete cidades, sob a coordenação do Grupo de Trabalho Gênero e Raça, lançamos a histórica e grandiosa Campanha Regional ‘As Diferenças são Naturais, as Desigualdades Não!’.
Aprendemos que o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC é o caminho mais eficiente para atuar fortemente na resolução de problemas comuns entre os municípios da região, inclusive otimizando recursos públicos. Aprendi também que a visão feminista na coordenação da gestão de políticas públicas para as mulheres faz sempre toda a diferença, contrapondo-se às formas tradicionais e patriarcais de pensar, decidir e fazer política.
Participei do NEMGE - Núcleo de Estudos da Mulher e Relações de Gênero da USP durante 5 anos, com pesquisadoras e amigas da área dos estudos de gênero, hoje professoras universitárias. Sob a coordenação e orientação da Professora Eva Blay, minha orientadora da dissertação de mestrado na FFLCH/USP que virou o livro ‘Masculino e Feminino – a primeira vez’, aprendi a importância de núcleos e coletivos para ações e estudos de promoção da igualdade de gênero dentro das universidades.
De 2005 a 2008, coordenei dois Programas da Secretaria de Saúde de Santo André, nas áreas de Saúde da Juventude e de Atenção à Violência e Abuso Sexual (RESAVAS). Implementamos o banco de dados das violências e a notificação compulsória da violência doméstica na rede de saúde pública de Santo André em 2006.
Em 2007, articulamos, organizamos e lançamos o atendimento do aborto legal no Centro Hospitalar Municipal e, posteriormente (2008), no Hospital da Mulher Maria José Stein. Nossa grande conquista referência nacional de parto humanizado, atenção ao câncer de mama e outros e atenção emergente à violência sexual de meninas e mulheres na cidade.
Neste mesmo período, lançamos também programas inéditos na área da saúde e cidadania da juventude: o ‘Se Liga na Parada’, o ‘Se Liga na Balada’ e o Plano Municipal de Saúde da Juventude. Coordenamos o processo de implementação do Programa ‘URB-AL 10 - La prevención de la exclusión social em jóvenes y adolescentes em contextos urbanos mediante la promoción de la salud y de factores resilientes’, que representou o Brasil em intercâmbio financiado pela União Europeia. Apresentamos em L’Escala na Espanha os trabalhos desenvolvidos na saúde com a juventude andreense.
Coordenei com a minha equipe a 1ª (2004) e a 4ª (2016) Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres em Santo André e fui Presidenta do Conselho Municipal de Defesa da Mulher na gestão de 2015 a 2016.
Mestra em Sociologia pela FFLCH/USP, graduada e pós-graduada em Educação Física pela FEFISA, fiz também pós-graduação para me especializar na área de estudos relacionados a atenção à Violência Sexual, por meio de curso realizado no PAVAS que é o Programa de Atenção à Violência Sexual vinculado à Faculdade de Saúde Pública da USP.
Sou professora de Sociologia e Antropologia da disciplina de Saúde Coletiva e vice-diretora do Departamento de Saúde da Coletividade na Faculdade de Medicina do ABC. ‘Rondonista’ por coordenar projetos sociais de extensão universitária desde 2010, coordeno o novo NUREC – Núcleo Rondon de Extensão Comunitária que desenvolve ações sociais e de saúde com estudantes no interior de São Paulo, em outros estados e nas proximidades da faculdade, em ruas, favelas, comunidades, viadutos e/ou ocupações.
Em 2012 lancei dois livros: ‘Masculino e Feminino - a primeira vez – um estudo de gênero sobre a sexualidade na adolescência’ e o ‘Bulindo com a Universidade - um estudo sobre o trote na Medicina’. Este último, em parceria com o professor Marco Akerman, a professora Roberta Boaretto e alunos (as) do curso de Medicina, em pesquisa vinculada à disciplina da Saúde Coletiva e ao CESCO/FMABC. Ambos os livros defendem a cidadania da nossa população jovem.
De 2010 a 2015 integrei o Núcleo Gestor da Diretoria da Faculdade de Medicina do ABC na qualidade de Vice Coordenadora e, em 2014, de Coordenadora de Extensão. Coordenei, juntamente ao professor Marco Akerman, a criação da COMEX/FMABC, área de extensão universitária.
Em 2012 fui candidata a vereadora em Santo André pelo Partido dos Trabalhadores pautando incisivamente a questão das mulheres e da juventude, mas não conseguimos levar a nossa luta ao legislativo. Em 2013 assumi o comando da primeira Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de Santo André/SP e da região do Grande ABC.
Neste governo, do prefeito Carlos Grana, juntamente com a minha equipe, outras Secretarias e com a participação da sociedade civil, Ongs, Fórum de Justiça, Consórcio e com apoio do Governo Federal (SPM e SEPPIR) implementamos diversas ações inovadoras com o objetivo de promover a igualdade entre homens e mulheres e combater todas as formas de violência, preconceito e discriminação contra a mulher na cidade.
Vale ressaltar que este foi o primeiro prefeito da cidade e da região do ABC a compreender que as políticas para as mulheres deveriam ocupar um lugar central de poder no primeiro escalão do governo, para avançarmos incisivamente na prevenção e no combate à violência e desigualdade de gênero. Fizemos mais uma vez história nesta área e pudemos contar a experiência da gestão da SPM, em transcrição detalhada, por meio do livro ‘Estudos feministas por um direito menos machista’. (Conchão; Pechtoll, 2018)
Dentre as ações da SPM, destaco algumas aqui:
O ‘QAA’ – Quem Ama Abraça – Fazendo Escola - Articulação da SPM com a Secretaria de Educação, para o fortalecimento do espaço escolar como campo privilegiado para a reflexão e a superação das diferentes formas de violência contra a mulher. Com apoio da Universidade Federal do ABC (UFABC) e do CEEP – Centro de Educação e Estudos e Pesquisas. Este programa foi criado no Brasil pela REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano e o Instituto Magna Mater, ambas ONGs de mulheres feministas do Rio de Janeiro com apoio do Governo Federal da extinta SPM.
O programa ‘E Agora José?’ - Grupo de ressocialização e socioeducativo para homens autores de violência contra a mulher, enquadrados na Lei Maria da Penha e encaminhados pelo Fórum de Justiça da Comarca de Santo André. Ação estratégica para proteção e prevenção da violência contra a mulher no importante trabalho organizado em ‘rede’ na cidade.
O projeto ‘Gênero, Saúde e Meio Ambiente’ - Junto a universidades, especialmente a FMABC e a Metodista, com apoio do CESCO, desenvolveu ações que promoveram o acesso à informação em saúde, combate à violência à mulher, educação ambiental, atividades culturais e noções de cidadania para as comunidades do Parque Andreense e da Vila de Paranapiacaba, áreas de manancial da cidade de Santo André, com foco nas mulheres e juventude.
A publicação ‘Mulheres de Santo André em Pauta – Perfil socioeconômico e o Mapa da Violência Contra a Mulher na cidade’ - Lançada em março de 2015 em parceria com a Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo, ajudou-nos a planejar ações com indicadores sociais e informações reais sobre as necessidades das mulheres.
A inesquecível ‘Parada Lilás’ -Grande passeata com participação anual de em torno de duas mil mulheres nas ruas do centro da cidade para celebrar as conquistas femininas e os avanços no ‘8 de março’.
Todas essas ações, inerentes à estrutura da SPM, foram interrompidas com o governo que assumiu em 2017, com exceção do Programa ‘E Agora José’, que hoje é comandado pelo Fórum de Justiça da cidade juntamente com a sociedade civil, graças à articulação de parceria no momento da criação do programa. Já vimos acontecer desmonte semelhante em 1993, o que demonstra que as políticas para as mulheres estão longe de se consagrarem enquanto políticas de Estado. A gente luta, conquista e coloca em ação, mostra os resultados e a importância, mas acaba perdendo tudo ou quase tudo quando mudam-se as cadeiras no comando partidário das gestões. O mesmo retrocesso, porém, de uma gigantesca dimensão estamos vendo hoje no cenário nacional.
Para finalizar, no mesmo ano de 2017, por unanimidade do Conselho Estadual da Condição Feminina, fui indicada como uma das seis mulheres destaques do Estado de São Paulo a ser condecorada com a medalha Ruth Cardoso, por reconhecerem o meu trabalho e dedicação na área. Essa medalha dediquei a todas as pessoas que estiveram comigo compondo as minhas equipes de trabalho para o desenvolvimento destas conquistas históricas na cidade e região.
Sem ‘elas’ e sem alguns aliados da luta aqui no ABC jamais seria possível!
Hoje sou presidenta do CESCO – Centro de Estudos de Saúde Coletiva. Tenho publicações de artigos e pesquisas nas áreas de educação, saúde, sexualidade, gênero, raça, juventude, trote na medicina, violência, gestão local e regional.
Toda a minha história de atuação nos movimentos sociais, em sala de aula há mais de 40 anos e como professora da Faculdade de Medicina do ABC, levou-me a estudar a questão do trote, o que tenho feito e observado desde 2010.
Desta forma, dedico-me há quase uma década ao estudo sociológico que envolve esta trama na sociabilidade jovem na universidade, problematizando as dimensões das relações de poder, expondo de forma sistemática os aspectos relacionados ao nosso ‘currículo oculto’, pautados em um grande movimento que envolve avanços, prazeres e vitórias, bem como, constrangimentos, permanências, retrocessos, tensões e resistências na formação do sujeito.
Não só me dedico a este estudo na busca de compreender o fenômeno da cultura trotista, como, quando e porque ela permanece, mas acolho permanentemente alunos e alunas que, angustiados (as) e/ou esgotados (as) deste sistema, buscam vínculos, relações de confiança, apoio e orientação. A ideia não é expor pessoas, área acadêmica, a instituição, ou órgãos que funcionam dentro da faculdade, mas sim saber mais sobre a engrenagem de um sistema velado que é espelho da nossa sociedade.
Sendo assim, em 2023 lancei mais um livro produto do meu doutorado: Faculdade de Medicina “Ame-a ou Deixe-a” – um estudo interseccional sobre o trote universitário. A pesquisa levantou um material que permite dialogarmos com um universo denso, proporcionando várias oportunidades de reflexão e relativizando a visão de senso comum relacionada ao trote como ação integradora. Visão esta que coloca, no campo individual, questões que causam preocupações e devem ser tratadas como ‘problema social’ a ser enfrentado.
A luta é contínua! 😉